O mar está subindo
O fotógrafo holandês Kadir van Lohuizen passou dois anos fotografando as consequências globais da elevação do nível dos oceanos
Kiribati fica no Oceano Pacífico, entre a Austrália e os Estados Unidos. Um arquipélago formado por dezenas de ilhas e com 114 mil habitantes, o país ostenta o título de um dos territórios menos visitados do mundo, segundo a Organização Mundial do Turismo. Não fica em uma área perigosa nem em uma zona de guerra. Pelo contrário: não faltam atrativos capazes de trazer mais turistas. Praias paradisíacas com areias brancas, água azul e transparente, ruínas históricas e áreas de mergulho poderiam transformar as ilhas numa opção de destino para os milhões de pessoas que viajam para lugares parecidos.
Mas um fator fora do controle impede qualquer tentativa de incrementar o turismo. Kiribati está desaparecendo. Literalmente. Projeções indicam que há o sério risco de dentro de 30 a 60 anos todo o território ficar inabitável, devido à silenciosa e crescente elevação do nível dos oceanos. O mar toma território dos moradores, esteriliza terras e destrói reservas de água potável. O custo humano é dramático. Toda a população do país pode ser forçada a se mudar caso esse cenário se realize. Para onde essas pessoas irão?
Sumindo do mapa
Na imagem acima e nesta, Kiribati. O país é um dos mais atingidos pelo aumento do nível dos oceanos. O mar tomou terreno de casas e contaminou as áreas agrícolas e as fontes de água potável (Foto: Kadir van Lohuizen/NOOR)
Foi essa pergunta tão simples quanto incômoda que levou o holandês Kadir van Lohuizen a passar dois anos fotografando as consequências globais da elevação do nível dos oceanos causada pela mudança climática decorrente do aquecimento global – aquele fenômeno óbvio e avassalador, no qual só pessoas como Donald Trump não acreditam. O trabalho de Van Lohuizen começou com uma visita a Bangladesh em 2014. No país asiático ele percebeu que, embora a maioria das pessoas ache que isso não acontecerá em suas vidas, há uma urgência real de enfrentamento da questão e uma falta de consciência geral. “Algumas regiões são relativamente pouco povoadas, mas, se você olhar para Bangladesh, eles podem ter de mover 50 milhões de pessoas até 2050”, diz Van Lohuizen. “Acredito que esse deslocamento forçado pelo aumento do nível do mar será um dos maiores desastres que vamos ver nos próximos 100 anos.”
Com imagens impactantes de lugares tão distintos como Estados Unidos, Kiribati, Reino Unido, Jamaica, Groenlândia e Nova Guiné, Van Lohuizen nos mostra como o problema se manifesta de diferentes formas, mas em diversos lugares do mundo. Não são apenas geleiras que derretem na longínqua Antártica; estradas são engolidas no Reino Unido. É incômodo. O que está acontecendo lá longe com as pessoas retratadas pode acontecer perto de qualquer um de nós. “Sou um realista. Nós temos de agir e nos adaptar rapidamente”, diz Van Lohuizen. “A questão não é se podemos fazer algo, mas se teremos tempo suficiente.”
Pelo mundo
Uma geleira na Groenlândia, onde o derretimento de verão dura 70% mais que em 1970 (Foto: Kadir van Lohuizen/NOOR)
Estrada destruída pela erosão no Reino Unido (Foto: Kadir van Lohuizen/NOOR)
Corais são replantados na Jamaica para servir como barreira (Foto: Kadir van Lohuizen/NOOR)
Boston: uma das opções para se proteger é fechar todo o porto (Foto: Kadir van Lohuizen/NOOR)
Terra estéril
Família numa área alagada pelo mar em Bangladesh. Após a invasão das águas do mar, as terras ficaram imprestáveis para a agricultura (Foto: Kadir van Lohuizen/NOOR)
Fonte: Epoca