Atividade humana põe ecossistemas brasileiros em risco
Desmatamento é apontado por ambientalistas como uma das principais preocupações.
Estradas como essa, aberta no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, contribuem para destruir espécies da Caatinga
Entre diversas atividades humanas que degradam os biomas esquecidos, uma delas é protagonista na destruição do Cerrado, da Caatinga e dos Pampas: o desmatamento. Especialistas chamam atenção para a necessidade de regulamentar terras e traçar projetos para um uso sustentável da área.
Tiago Reis, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), alerta que o desmatamento do Cerrado foi cinco vezes mais rápido do que da Amazônia entre 2013 e 2015. Esta devastação ameaça o equilíbrio ambiental que garante a produção agrícola no Brasil, já que a perda da vegetação nativa compromete a formação de chuvas.
— Proteger o Cerrado não inviabiliza as atividades econômicas. Mas é preciso reorganizar a região — pondera. —Existem 2,5 milhões de hectares em áreas públicas não-destinadas; são terra de ninguém, ou seja, territórios da União e dos estados que estão abertos à grilagem. Devemos abrigar neles as populações tradicionais, expandir a soja para locais de pasto subutilizados e levar os bois para pontos que não são propícios para a agricultura.
Assim como o Cerrado, os Pampas são conhecidos pelos campos abertos. Mas no bioma gaúcho, tomado pela vegetação de gramíneas, predomina a confusão sobre o que é área verde e o que de fato foi desmatado.
Coordenador do Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata, vinculado ao Instituto de Meio Ambiente da PUC-RS, Pedro de Abreu Ferreira defende políticas públicas para o combate à devastação do bioma e parcerias internacionais que viabilizem exploração sustentável.
Cobertura original em xeque
Em 2008, apenas 36% dos campos sulinos mantinham a cobertura vegetal original. As culturas agrícolas, que saíram de lá em direção ao Centro-Oeste, tomaram porções consideráveis do território.
— Falta conhecimento técnico sobre as características básicas dos Pampas — lamenta Ferreira. — Infelizmente o ativismo ambiental é pouco ouvido no país.
A riqueza surpreendente de sua biodiversidade também é característica da Caatinga, que é uma das mais ricas florestas secas do planeta. Segundo José Maria Cardoso da Silva, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Miami, 63% da vegetação do bioma estão seriamente modificadas por atividades humanas, como queimadas, desmatamento e a construção de estradas.
— Por muito tempo pensou-se que a região é pobre em espécies, mas isso é pura ilusão — assinala. — A fauna e a flora são ricas e diversificadas. Infelizmente tudo o que sobrou está dividido em pequenas manchas isoladas. Em uma situação como essa as unidades de conservação são fundamentais para manter o que resta. O governo federal chegou a propor um corredor ecológico com mais de 11 milhões de hectares entre as reservas. Era uma ideia bonita, mas que desapareceu com o tempo.
Cardoso destaca que a Caatinga é lar de uma população de baixa renda que depende dos recursos naturais. As mudanças climáticas aumentarão a vulnerabilidade dos mais pobres, já que, segundo prognósticos, existe a possibilidade de que quase 90% da região seja transformada em deserto nas próximas décadas:
— Fazer a transição de uma Caatinga degradada e empobrecida para uma Caatinga sustentável e resiliente exigirá um esforço enorme da sociedade.
Fonte: O Globo